terça-feira, 17 de setembro de 2013

Andando para trás?

Dias desses me fiz essa pergunta ao ver um quadro de um famoso programa de auditório da televisão brasileira, o quadro era mais um dos muitos importados que atualmente ocupam as grades de programação da televisão brasileira. Imediatamente lembrei das palavras do jornalista José Arbex Júnior, na apresentação do livro "Padrões de manipulação na grande imprensa - um ensaio inédito" de Perseu Abramo, publicado pela Editora Fundação Perseu Abramo. No texto, Arbex faz um real análise sobre o histórico da "grande mídia" no Brasil e apresenta um realidade que aponta para uma preocupação real sobre a mídia nacional.


"A 'grande mídia' brasileira é uma das mais competentes do planeta. A Rede Globo está entre as cinco maiores redes de canal aberto do mundo; seus programas, não importa o gênero - jornalismo, entretenimento, novelas -, exibem qualidade técnica espetacular, são artigo de exportação... ... Azar o nosso...".¹


Atualmente parece que os produtos importados vem ganhando mais espaço nas nossas televisões e também por isso, há que se concordar com Arbex, quando diz, azar o nosso. Ter programas com linguagem e ou formato parecidos e ou baseados em programas estrangeiros, não é errado é até salutar, temos hoje, programas tradicionais que há anos repetem o formato de programas de outros países. Está ai o Programa do Jô, que é claramente baseado em um famoso talk show dos EUA e que, já gerou outros programas concorrentes aqui no Brasil também. Atualmente o que se aproxima mais é o Agora é Tarde de Danilo Gentili, na Bandeirantes.


Isso sem falar nos reality shows, que se espalharam pela televisão brasileira e que são baseados em formatos trazidos de fora do Brasil. Também temos programas que possuem suas versões nos mais variados países e que tem o Brasil na lista. Entre estes podemos citar o Custe o Que Custar (CQC), que foi vitrine para o próprio Gentili e tem suas versões na Argentina - original - e na Espanha, provavelmente existam outros países com seus "homens de preto". Existem ainda os quadros importados como o Dança dos Famosos, que motivou a publicação deste texto, ou ainda o Lata Velha, o Lar Doce Lar e seus similares espalhados pelas concorrentes.

Essa situação me lembra o bordão de um outro importante nome da televisão brasileira, Abelardo Barbosa, o Chacrinha, que dizia: "Na televisão nada se cria, tudo se copia", a frase era claramente inspirada no pensamento do químico francês Antoine Lavoisier, que afirmara: "Na natureza nada se cria, tudo se transforma".


O comportamento atual da televisão brasileira parece estar inspirado por Chacrinha e apontando para o lado oposto ao citado por Arbex, no livro de Abramo. Se temos capacidade técnica para produzir conteúdo de qualidade, por que atualmente importamos tanta coisa de fora? É evidente que se existisse uma "balança comercial" da produção audiovisual, certamente ainda estaríamos com superavit, mas que é preocupante esse aumento ocorrido nos últimos anos, isso é.


Por quais motivos a televisão brasileira estaria regredindo? Ou seria a produção de conteúdo que teria regredido? São questões a se pensar. Por isso acredito ser importante debater essas questões e acompanho com atenção o debate que vem ganhando força nos últimos anos de valorização da produção regional, ganhando espaço para nossa cultura e nossa produção em detrimento dos produtos importados.


Não quero aqui debater a qualidade do que é importado, assim como não discuto a qualidade do que importamos, mas acredito que a hora para debater essas questões é agora, caso demoremos com esses debates correremos sérios riscos de em breve andarmos para trás e perdermos espaços para a cultura dos outros países.

¹ Júnior, José Arbex. O legado ético de Perseu Abramo e Aloysio Biondi. Padrões de manipulação na grande imprensa - um ensaio inédito de Perseu Abramo. ed Fundação Perseu Abramo.


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